HYPERFUNK: TRANSFORMAÇÕES E TENDÊNCIAS NO FUNK

O movimento de Hyperfunk é relativamente recente. Ele deriva de experimentações da batida do funk com elementos de música eletrônica e rave ocorridos do final dos anos 2010 em diante. Por ser uma vertente do funk muito recente e menos comercial que outras (do ponto de vista de grande mercado), as fontes se resumem em alguns videos curtos, geralmente trechos das próprias músicas, na plataforma tiktok (local aonde ela se difundiu) e em poucas matérias em um blog especializado sobre música, ainda sob o nome de rave funk. A tentativa neste post, então é centralizar as informações sobre este fenômeno e trazer suas nuances, de que forma ele utiliza a tecnologia disponível para produção, adicionando novas características afim de que se possa entender oque de fato é o hyperfunk

Em uma rede social, o produtor do estilo conhecido como ddogll, compartilha seu processo de criação e os bastidores de suas músicas, sua infraestrutura (que é totalmente caseira) e divulga os resultados para seus mais de seis mil seguidores. Já no youtube suas canções ultrapassam os … ouvintes. Ele também está presente em outras plataformas, como spotfy, demonstrando que a tecnologia está totalmente relacionada ao movimento e que é o ponto chave para a existência dele. É oque justifica sua existência e ao mesmo tempo oque possibilita suas modificações tão radicais até que se torne um outro estio de funk ou até mesmo outro gênero musical. Além dele, outros nomes conhecidos por misturar música eletrônica e funk são o Dj GBR e O Dj MU540.

Página oficial do perfil de Douglas Silvestre, conhecido por dividir suas criações na internet para seus seguidores

Como outros tipos de funk, este também é produzido com uso de aparelhos eletrônicos. Podem ser usados programas de mixagem de som em computador, controladores de midi e até pick ups de som. Neles, um DJ ou Beatmaker criar a batida a partir de sons derivados de seus aparatos, grava o vocal e junta todas as peças. Porém, uma diferença importante está no estilo do som, que se distancia em muito do funk 150bpm carioca e do brega funk que teve origem no nordeste. Já a diferença entre o ravefunk, o mega funk e o hyperfunk é sutil e muitas vezes difícil de compreender. Basicamente eles estão em uma ordem de menos mistura entre elementos do funk e música eletrônica para mais, sendo o hyperfunk mais influenciado pelo hardcore eletrônico.
O hyperfunk explora ao máximo os limites entre os dois gêneros musicais em que se apoia e propositalmente tenta soar o mais artificial e eletrônico possível. Como uma sinfonia de maquinas e aparelhos eletrônicos. Por terem surgido em momentos muito próximos e terem públicos alvo semelhantes, é normal que haja tanta semelhança, por isso deixamos exemplos de cada tipo para comparação.

Exemplo de rave funk
Exemplo de mega funk
Exemplo de hyperfunk

No hyperfunk a tecnologia é fundamental, não só pela estética sonora e visual e toda a energia de algo eletrônico, artificial , futurista mas também pela capacidade de explorar sons, mixar, destrinchar e reagrupar. Não existe uma técnica só, porque o intuito é testar, causar o máximo de ruídos para confundir o ouvinte. Quanto mais elementos e mais rápidos, altos ou estourados os sons, melhor é o produtor. Mas apesar de este discurso parecer ir na contramão de uma grande mídia e tentar grandes inovações, estas noções de experimentação são na realidade tudo que a música eletrônica já se propõe. essa ideia é colocada, por exemplo, no texto Arte e Mídia: aproximações e distinções de Arlindo Machado, no seguinte trecho: “A arte sempre foi produzida com os meios de seu tempo. Bach compôs fugas para cravo pois este era o instrumento musical mais avançado da sua época em termos de engenharia e acústica. Já Stockhausen preferiu compor texturas sonoras para sintetizadores eletrônicos, pois em sua época já não fazia mais sentido conceber peças para cravo, a não ser em termos de citação histórica. Mas os desafios enfrentados por ambos os compositores foi exatamente o mesmo: extrair o máximo das possibilidades musicais de dois instrumentos recém inventados e que davam forma à sensibilidade acústica de suas respectivas épocas.”

Quando o DJ tenta elevar as batidas, estourar o grave ou provocar um ruído persistente extremamente elevado, ele não está divergindo do equipamento ou de um pensamento, está informalmente procurando novas formas de se distrair, de fugir de uma realidade e se deixar levar. O impacto da sonoridade nas sensações do indivíduo por si só não é nada mais que o mesmo problema trabalhado por diversos artistas experimentais da arte contemporânea e mesmo antes disso. No que envolve o funk, o estilo também não cria propriamente uma técnica nova, mas utiliza elementos como as batidas, estilo de letra e temática que ficaram famosos nos anos 2010, sobretudo de 2016 em diante. Portanto, pode-se afirmar que ele está usando seus aparelhos exatamente da forma como eles foram pensados dentro do projeto industrial.

O seu trunfo está em dois pontos: o primeiro é um som muito característico, chamado tuim (ou tuin). Não existem muitas argumentações teóricas sobre sua utilidade, mas o fato é que de tão característico, ele chega a compor nomes de músicas e ser procurado de forma independente, o que prova sua fama entre os ouvintes. Geralmente ele se assemelha a um apito contínuo durante toda a música, causando no ouvinte uma sensação de atordoamento ao mesmo tempo que prende quem o escuta. Este é um elemento que o diferencia dos demais estilos de funk e da música eletrônica. O outro é o ato de juntar dois gêneros musicais e suas estéticas e pensamentos dos movimentos que os acompanharam até criar um produto tão distante deles que seja fácil de distinguir como um resultado de sua geração e suas capacidades, estilos, inspirações e contradições.

Bibliografia

MACHADO, Arlindo. Arte e mídia: aproximações e distinções. Forum: Interação. Metalinguagem. Interpretação. n. 4, p19 – 32, 2002.

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